Quando a diversão com jogos se torna uma doença

O quanto o aumento dos vícios em jogos eletrônicos tem prejudicado o indivíduo no âmbito familiar, social e profissional

A OMS (Organização Mundial da Saúde) já classifica como doença, a dependência em jogos eletrônicos. E a coisa é tão séria que alguns países já tem clínicas privadas para tratar o distúrbio, como é o caso do Reino Unido. Os governos da China, Japão e Coréia do Sul, já criaram ferramentas e dispositivos para controlar o uso excessivo dos games entre crianças e jovens.

As razões para os games causarem dependência são inúmeras, entre elas, são os próprios jogos que são feitos, pensados e projetados para viciar, mantendo os usuários ligados ou conectados à jogos desafiadores com vários níveis de dificuldade, mas sempre com recompensas atraentes, conforme as etapas são vencidas.

Tenho recebido muitas crianças e adolescentes em consultório com dependência de jogos. Crianças preenchendo critério para vício em eletrônicos, é alarmante. Há também a questão dos jogos violentos sendo usados por crianças e mesmo por adolescentes que ainda não tem uma estrutura emocional bem sedimentada. Há os jogos ansiogênicos, que nem sempre são violentos, mas que causam ansiedade e desconforto – comentou a Dra. Priscila Dossi

O indivíduo passa a adquirir um alto grau de tolerância em frente as telas, passando cada vez mais tempo jogando. E o tempo diante dos games aumentou consideravelmente desde quando começou a pandemia, principalmente entre crianças e jovens, que devido a mesma, deixaram de ter aulas presenciais.

E por se tratar de dependência, a abstinência também está presente. Quadros de ansiedade, insônia, irritabilidade e até tremores pelo corpo podem surgir quando o indivíduo é impedido de jogar.

Precisamos levar em consideração também o conteúdo altamente violento de muitos jogos que são expostos às crianças e adolescentes sem nenhuma supervisão dos pais, supervisão essa, que muitas vezes é negligenciada para evitar atritos com os filhos – ressalta a especialista.

Viciados em games apresentam os seguintes sinais:

  • Passam a priorizar os jogos em relação a todo o resto
  • Perda de controle sobre o impulso de jogar
  • Descuido com a aparência e com a higiene pessoal
  • Insônia e sono desregulado
  • Abandonam os familiares e amigos

Por isso a dependência em games, ou Transtorno do Jogo, é considerado um vício comportamental, ou seja, é quando a pessoa negligencia seus afazeres diários, seus familiares e amigos para passar o tempo jogando, comprometendo as suas relações pessoais, sua vida escolar, acadêmica e profissional, além de afetar a sua alimentação e seu descanso.

Outro motivo que faz dos games algo viciante é que, segundo pesquisas, o jogador é bombardeado com altos níveis de dopamina, que é o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer, onde uma parte do cérebro, é motivada por recompensa. Quanto mais tempo o indivíduo passa jogando, mais dopamina é liberada no cérebro, causando mais dependência em experimentar aqueles estímulos a fim de aumentar a sensação de prazer. Um círculo vicioso é criado.

Como tratamento temos a psicoterapia cognitivo-comportamental como a opção mais utilizada em vício em jogos online. Com o tratamento o paciente é levado a entender os aspectos de sua dependência, a partir daí, se cria condições para desenvolver maneiras de se relacionar socialmente, fora do ambiente dos jogos online – completou a Dra. Priscila Dossi.

Alerta aos Pais: Observe mais os seus filhos e se notar quaisquer um dos sintomas acima citados, não hesite em buscar ajuda.


Dra Priscila Zempulski Dossi é médica psiquiatra com especialização em psiquiatria infantil e adolescência pela UNICAMP. Trata infância, adolescência, adultos e também cuida dos transtornos peri-parto. CRM-MS: 7271 RQE: 5944/5945 – Instagram: @prisciladossipsiquiatra – Site: https://prisciladossi.com.br

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