por Paulo Fernando Silvestre Jr. – Na semana passada, o mercado de tecnologia foi sacudido pelo anúncio do “futuro da Internet” feito por Mark Zuckerberg, CEO do Facebook. Trata-se do metaverso, um ambiente digital totalmente imersivo, em que a realidade poderá ser substituída por simulações interativas bastante convincentes, com o uso de equipamentos de realidade virtual e de realidade aumentada.
Não há nada parecido com isso hoje, pelo menos como um produto de uso cotidiano para as massas. Por isso, os estudos sobre seus efeitos ainda são limitados. O que se sabe é que, com tamanha imersão, nosso cérebro pode ser “enganado” para acreditar que aquela simulação é algo real, gerando reações em nosso próprio corpo. Uma realidade virtual poderosa pode diminuir nossa capacidade de distinguir entre o que existe de fato e o que é apenas uma simulação.
Especialistas afirmam que isso pode ser potencialmente mais sério entre crianças e adolescentes. Com suas capacidades cognitivas em formação, a diferença entre real e virtual se torna ainda mais difusa.
Os jovens são, portanto, ainda mais suscetíveis aos estímulos que recebem em realidade virtual, o que cria preocupações não apenas em questões comerciais, mas também de bullying e até de pedofilia. Para tornar a situação mais dramática, é muito difícil monitorar um ambiente tão dinâmico.
Zuckerberg busca estratégias para atrair e reter o público jovem, algo essencial para seus negócios, que estão ficando envelhecidos e pouco atraentes para os mais novos. E não se pode ignorar uma das piores acusações que vêm sendo feitas contra o Facebook: a de que a companhia sabe que o Instagram, um de seus principais produtos, acentua problemas de saúde mental em adolescentes e deliberadamente faz pouco para prevenir isso.
O metaverso preconizado por Zuckerberg eventualmente se tornará um produto de massas. Mas, se tanto já se discute sobre o poder que as redes sociais têm de deixar pessoas (especialmente as mais novas) deprimidas, esse novo mundo digital imersivo precisa ser encarado com muito mais cuidado.
Trata-se de uma ferramenta com potencial formidável, mas não pode ser abraçada de maneira leviana. E é isso que me preocupa! Adultos e principalmente crianças não podem usá-la para fugir de problemas reais em uma fantasia idealizada. Se fizerem isso, poderemos ver o surgimento de uma geração ainda menos capaz de lidar com os desafios da vida e mais deprimida, ao ser confrontada com seu cotidiano inescapável.
Para entender mais sobre como o metaverso funciona e conhecer seus benefícios e potenciais riscos, assista ao vídeo da minha Pílula de Cultura Digital dessa semana.
(artigo publicado na newsletter “O Macaco Elétrico”)
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