Bombardeio de publicidade nesse período abre discussão sobre a formação de consumidores conscientes. Especialistas em psicologia e comunicação ensinam pais a proteger as crianças dos exageros.
Se a publicidade infantil já é arrebatadora no dia a dia, imagine quando se aproxima uma data comercial como o Dia da Criança? O volume é tão intenso que há intervalos comerciais inteiros dedicados aos anúncios voltados para a infância. O resultado desse bombardeio são adultos estressados, buscando nas lojas o brinquedo “desejado”. Ao entrega-lo à criança, o estresse virá frustração. Em poucos minutos, o objeto de desejo é esquecido e recomeça a busca da criança por algo que ela não sabe definir, mas que precisa ter.
Não parece que o mundo era muito melhor quando havia menos o que comprar? Quando desejávamos menos? Quando as crianças brincavam mais e sorriam mais? Será que dá para preservar a alegria de ser criança mesmo com todos os avanços da tecnologia, das novas mídias e de tantos novos produtos?
A psicóloga Ana Maria Dias da Silva e a especialista em comunicação Luciene Ricciotti Vasconcelos acreditam que sim. A receita, segundo elas, é simples: informação e senso crítico para formar consumidores conscientes de seu papel na sociedade. “Será maravilhoso viver em um mundo onde todos poderão escolher o que comprar usando critérios econômicos, sociais e ambientais, felizes com suas escolhas, usufruindo os benefícios do consumo de produtos”, afirmam.
As duas mergulharam de cabeça no tema e escreveram o livro A criança e o marketing (96 pág., R$ 32,20), lançado pela Summus Editorial neste ano. Destinada a pais e professores, a obra analisa como se dá a formação do caráter, desvenda o funcionamento das principais ferramentas de marketing e da comunicação e mostra como a publicidade atinge as crianças.
Partindo do pressuposto de que pais e professores podem, desde a mais tenra infância, ajudar as crianças a se tornarem consumidores conscientes, as autoras reuniram informações fundamentais para auxiliar os adultos a proteger as crianças dos apelos do marketing infantil. Segundo elas, com mais consciência de seu poder como consumidor, de sua influência na criação de produtos e na divulgação dos mesmos, será possível criar adultos capazes de escolher o que comprar, com base naquilo que realmente querem e necessitam.
Segundo as autoras, atualmente, pessoas de todos os níveis sociais e de todas as idades estão escolhendo o consumo como atitude de vida e não como meio de satisfazer suas reais necessidades. Refletir sobre essa questão e suas consequências é responsabilidade de todos: empresas, governos, famílias, educadores, publicitários e executivos. “Entendemos que a consciência vigilante da população diante do marketing infantil é um trabalho coletivo”, completam.
Dividido em quatro capítulos, o livro oferece uma visão do mundo atual em relação à infância e ao marketing; explica as funções do marketing infantil e apresenta a criança em cada fase de seu desenvolvimento como público-alvo da comunicação.
Um capítulo especial traz dicas práticas para pais e professores sobre como lidar com situações cotidianas relacionadas à exposição das crianças à mídia e aos produtos, protegendo os pequenos dos apelos sedutores do marketing infantil.
Gestores e administradores também se beneficiam da leitura, pois as autoras abordam a aplicação do marketing 3.0, de Philip Kotler, grande mestre do marketing mundial. Este novo conceito orienta as empresas a satisfazer uma necessidade ampla do consumidor como ser humano. Pois, cada vez mais, os consumidores buscam empresas que atendam suas mais profundas necessidades sociais e ambientais.
“O livro é estopim para uma grande mudança”. Além disso, apresenta às empresas e agências que trabalham com marketing infantil, caminhos para crescer no mercado evoluindo para esse novo marketing mundial.
As autoras
Psicóloga formada pela Universidade Metodista de São Paulo, Ana Maria Dias da Silva tem ampla experiência clínica e dedica-se à educação por acreditar na importância de cuidar da formação das crianças desde os primeiros anos, quando se estrutura sua base de valores e virtudes. Trabalha com pais, oferecendo orientação individual e em grupos. É especialista em Psicodrama, técnica em prevenção ao uso de drogas e DST-Aids pela Secretaria do Estado de Educação de São Paulo e tem capacitação no programa Vivendo Valores na Educação, da Unicef. Ministra palestra e cursos e é membro da Rede de Trabalho do Instituto Alana.
Luciene Ricciotti Vasconcelos formou-se em Administração com ênfase em Marketing pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Redatora publicitária e profissional de planejamento com experiência em cargos de direção em agências de destaque, é pós-graduada em Comunicação de Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). É consultora e sócia-diretora da W3 Comunicação. Professora da Faculdade de Administração de Empresas da Faap, é autora dos livros Mark-óbvio (Summus, 1998) e Planejamento de comunicação integrada (Summus, 2009). Ministra palestras e treinamentos na área de comunicação e marketing e é membro da Rede de Trabalho do Instituto Alana.
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