Pediatras, ginecologistas e obstetras de todo o Brasil vão receber novas orientações sobre bebidas alcoólicas e maternidade
Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo, SOGESP, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) Academia Brasileira das Mulheres Médicas (ABMM) e Associação Paulista de Medicina (APM).
Todas estas instituições são parceiras no lançamento da segunda edição do livro Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido, que ocorrerá oficialmente em 5 de abril, às 18h, em São Paulo, durante coquetel a convidados da área de saúde e imprensa.
Além do secretário da saúde do Estado, David Uip, do vereador médico Gilberto Natalini, dos presidentes da SPSP, Claudio Barsanti, da SBP, Luciana Rodrigues, da Sogesp, Rossana Pulcineli Francisco, da Febrasgo, César Fernandes, e da APM, José Luiz Gomes do Amaral, aguarda-se a presença de Dartiu Xavier da Silveira, Unifesp, Arthur Guerra de Andrade, USP, Ronaldo Laranjeira – Unifesp, Patrícia Hoschgraf e Sílvia Brasiliano – Promud, só para citar alguns dos principais especialistas do Brasil, em álcool e drogas
O objetivo é atualizar para os médicos de todo o Brasil as informações mais recentes sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), causada pelo consumo de álcool durante a gravidez. A obra será distribuída gratuitamente a todos os ginecologistas e obstetras do Brasil, tendo ainda uma edição ouro, para envio a universidades, secretarias de Estado e outras autoridades da saúde.
Totalmente revisada por especialistas do grupo de trabalho Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido, esta segunda edição traz atualizações baseadas em evidências e traz a inserção de dois novos. Os textos são assinados pelos especialistas Hermann Grinfeld, Corintio Mariani, Lygia Mendes dos Santos Border, Mirlene Cecilia Soares Pinho Cernach, Helenilce de Paula Fiod Costa, Maria dos Anjos Mesquita, Marcia de Freitas e Conceição Aparecida de Mattos Segre.
“A meta é transmitir para as equipes de saúde o conhecimento acerca dos efeitos do álcool para a saúde da gestante e do feto, principalmente no que diz respeito à síndrome alcoólica fetal, doença grave e sem cura. Queremos fazer com que esses profissionais, baseados no livro, alertem a população sobre os riscos do álcool na gravidez”, ressalta Conceição Aparecida de Mattos Segre, coordenadora do grupo de trabalho da SPSP e das duas edições do livro.
Cláudio Barsanti, presidente da SPSP, e Corintio Mariani Neto, membro do grupo de trabalho e da FEBRASGO, são responsáveis pela apresentação do livro.
Nova madrinha da Campanha #gravidezsemalcool
Também está convidada à solenidade Christiana Kalache, a Kika, madrinha da campanha #gravidezsemalcool contra a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), edição 2018. Mãe do pequeno Joaquim, de 3 anos, a atriz tem seu currículo diversos sucessos do teatro e da televisão brasileira, como a peça Melodrama, o filme Lavoura Arcaica, novelas como América, Ti Ti Ti, Cheias de Charme, O Clone, e as séries Sob Nova Direção e Casos e Acasos.
Kika deu à luz Joaquim com 42 anos. Ela conta as dificuldades e cuidados para seu bebê nascer saudável. “Resolvi ter filho tarde. Toda vez que pensava que era a hora aparecia um trabalho ou uma viagem e sempre acabava adiando o momento de ser mãe. Pensava que nos dias de hoje as pessoas pudessem ter filhos quando bem quisessem, mas não é assim. Aos 39 anos foi difícil engravidar. Recorri a FIV, fertilização in vitro, sofri grande desgaste emocional. para engravidar, minha primeira decisão foi levar uma vida mais saudável. Parei imediatamente de fumar e de beber. O que são nove meses de cuidado conosco para ter uma criança saudável? Tudo que toda mãe quer para o seu filho é saúde e confesso que não me senti privada de nada. O Joaquim nasceu saudável, com quase 4kg. Até parar com a amamentação não tomei uma só gota de álcool”.
A iniciativa permanente estimula o combate à Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e foi lançada nacionalmente, tendo o apoio institucional Marjan Farma.
Sobre a SAF
A exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica pode acarretar problemas graves e irreversíveis ao bebê. Eles podem revelar-se logo ao nascimento ou mais tardiamente e perpetuam-se pelo resto da vida. A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) apresenta diversas manifestações, desde malformações congênitas faciais, neurológicas, cardíacas e renais, mas as alterações comportamentais estão sempre presentes. Contabiliza, mundialmente, de 1 a 3 casos por 1000 nascidos vivos. No Brasil não há dados oficiais do que ocorre de norte a sul sobre a afecção; entretanto, existem números de universos específicos.
Para ter uma ideia, no Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, um estudo com praticamente 2 mil puérperas apontou que 33% bebiam mesmo esperando um bebê. O mais grave: 22% consumiram álcool até o dia de dar à luz.
“É fundamental ressaltar que o melhor caminho é realmente a prevenção” completa a Dra. Conceição Aparecida de Mattos Ségre, do Grupo de Prevenção dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). “Não há qualquer comprovação de uma quantidade segura de bebida alcoólica que proteja a criança de qualquer risco. Neste caso, a gestante ou a mulher que pretende engravidar deve optar por tolerância zero à bebida alcoólica”.
Características
O conjunto de efeitos decorrentes do consumo de álcool, em qualquer dosagem ou período da gravidez, é chamado de “espectro de distúrbios fetais relacionados ao álcool”, que inclui a SAF. A frequência dessas implicações varia conforme etnia, genética e até mesmo a quantidade ingerida. Isso não significa que todos os bebês expostos serão afetados, mas a probabilidade é alta.
“Bebês com SAF têm alterações bastantes características na face, as chamadas dismorfias faciais. Além disso, faz parte do quadro o baixo peso ao nascer devido à restrição de crescimento intrauterino, e o comprometimento do sistema nervoso central. Essas são as características básicas para o diagnóstico no período neonatal”, comenta Claudio Barsanti, presidente da SPSP.
No decorrer do desenvolvimento infantil, o dismorfismo facial atenua-se, o que dificulta o diagnóstico tardio. Permanece o retardo mental (QI médio varia de 60 a 70), problemas motores, de aprendizagem (principalmente matemática), memória, fala, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, entre outros. Adolescentes e adultos demonstram problemas de saúde mental em 95% dos casos, como pendências com a lei (60%); comportamento sexual inadequado (52%) e dificuldades com o emprego (70%).
Diagnóstico e Tratamento
Em São Paulo, o Grupo da SPSP cria ações para conscientizar os pediatras, com distribuição de material em eventos científicos, publicações disponíveis na internet aos associados da SPSP e cursos voltados para equipes multidisciplinares de capacitação para reconhecimento e condutas nesses casos.
Nos Estados Unidos e Canadá, existe um teste que identifica produtos do álcool no mecônio ou cabelo do recém-nascido. É uma técnica de alto custo, que ainda não está disponível no Brasil.
“Vale lembrar que os efeitos do álcool ocasionados pela ingestão materna de bebidas alcoólicas durante a gestação não têm cura, por isso vale a máxima: o quanto antes parar, melhor para o bebê, sua família e a sociedade. O diagnóstico precoce da doença e a instituição de tratamento multidisciplinar ainda na primeira infância podem abrandar suas manifestações”, completa a Dra. Conceição.
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