Frustração na medida certa

Embora nenhum pai goste de ver o filho sofrer, ela é imprescindível para o desenvolvimento saudável dos pequenos.

Choro, birra e cara feia. Esses são alguns dos sinais mais frequentes nas crianças quando se sentem limitadas e frustradas. E, embora nenhum pai goste de ver seu filho sofrer, saber lidar com a tristeza e a frustração é fundamentais para um desenvolvimento saudável.

No ambiente familiar é mais cômodo e fácil ceder aos desejos das crianças. Isso está relacionado a incapacidade de alguns pais de lidar com o sofrimento dos filhos. Contudo, segundo especialistas em comportamento infantil, a frustração é um sentimento inerente a vida de qualquer indivíduo e a habilidade de lidar com ela desde cedo pode evitar uma adaptação forçada e dolorida no futuro. “Ninguém pode ter tudo na vida e isso precisa ser aprendido desde cedo”, explica a psicóloga clínica Ana Cássia Maturano. “A frustração impulsiona o desenvolvimento. É ela que leva a pessoa para a frente”.

Não é necessária uma grande bagagem de valores e concepções morais e éticas para que a criança elabore e sinta o que é a frustração. Segundo a também psicóloga e diretora pedagógica do Colégio Global, Eliana de Barros Santos, a simples demora para amamentar o bebê já implica um desprazer com o qual ele vai ter que lidar.

“Criança alguma gosta de ser contrariada”, alerta Eliana. “No entanto, deve-se atentar para o fato de que se, por um lado, existe a frustração, por outro lado há a criança, que ao testar os limites dos pais demonstra a necessidade de limites. A baixa resistência a frustração por parte da criança muitas vezes indica a inconstância na definição de limites, imprescindível para que ela se desenvolva em todos os níveis”.

Um importante aliado dos pais nessa empreitada deve ser o ambiente escolar.

O serviço social que apresente as crianças outras realidades e proporcione, ainda que minimamente, o convívio com esse novo universo – seja cultural ou social – pode auxiliar o jovem a compreender que o mundo não é como ele gostaria que fosse.

“Os pais devem se policiar para que não utilizem de táticas compensatórias com os filhos”, ensina Ana Cássia.

Do mesmo modo que evitar qualquer sofrimento é prejudicial, causá-lo é igualmente ruim, alerta Eliana de Barros Santos.

“É condenável o pai que tenta influenciar uma nota que reprova o filho, mas se a criança está enfrentando problemas de discriminação com os colegas, ele também não pode se omitir”.

Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga clínica pela Universidade de São Paulo (USP), é co-autora do livro Puericultura Princípios e Práticas (Ed Atheneu).
Eliana de Barros Santos é psicóloga e diretora pedagógica do Colégio Global.

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