por Ana Cássia Maturano – Ao receber um aluno, a escola deve ter claro que ele não é um mero objeto de aprendizado. Ele é um ser humano complexo, com desejos, medos, reações, interesses, necessidades.
Com a aproximação do final do ano, começa a romaria dos pais em busca da primeira escola dos filhos ou mesmo visando a transferência para outra instituição. E aí surgem as dúvidas: qual é a idade ideal para começar? Qual é a escola certa para o meu filho? Mudanças sempre assustam. Por isso, muitos pais temem pela adaptação dos pequenos. Conversar com a criança sobre o que está acontecendo e incluí-la no processo de escolha pode ajudar nesse período difícil de transição. “Saber o que vai acontecer ameniza o sofrimento à medida que desfaz algumas fantasias”, afirma a psicopedagoga Ana Cássia Maturano.
Outro motivo de aflição é a qualidade da escola. Sobre isso, deve-se considerar que tipo de formação o pai espera que a escola dê ao seus filhos. Observa-se que a escola ainda se preocupa em passar os conteúdos. Hoje em dia, com tantas informações e dispositivos a disposição, não há necessidade de tanto desespero para isso. Ana Cássia diz que o ideal seria trabalhar a relação dos alunos com o aprender, ajudando-os a se organizar e ensinando-os a estudar.
Ao receber um aluno, a escola deve ter claro que ele não é um mero objeto de aprendizado. Ele é um ser humano complexo, com desejos, medos, reações, interesses, necessidades etc. Portanto, deve-se considerar que a escola é não só um local de transmissão de conteúdos, mas também de formação humana. Nesse sentido, seguindo um pensamento antiquado, ainda encontramos muitas instituições que não só não se adaptam às necessidades dos alunos como pessoas, como também não se adequam aos avanços tecnológicos, ignorando os benefícios que podem proporcionar. Não se pode ignorar que nos dias atuais 100% dos alunos estão inseridos no mundo tecnológico. Porém, inúmeros professores resistem às inovações, mantendo uma aula analógica e muitas vezes desinteressante.
O aprendizado é uma via de mão tripla. Escola, família e aluno têm que trabalhar juntos para uma formação satisfatória. Mas o que comumente se encontra é uma tensão entre escola e família, porque ambos idealizam a criança, cada uma a sua maneira, criando um confronto. “Se uma criança traz muito problema, algo há. Família e escola precisam estar juntas, cada uma em seu papel”, ressalta a especialista.
O ambiente escolar é propício para a percepção de vários aspectos da criança – uma vez que lá é o local onde ela passa mais tempo – e de maneira mais objetiva do que em casa. Diante do surgimento de problemas com o aluno, a escola deve comunicar os pais, que muitas vezes podem ter mais dificuldade em enxergar a situação. Dessa forma, com escola e família trabalhando juntas, a criança só tem a ganhar, pois estará sendo assistida por essas duas instituições importantes.
Diante disso, é certo que a mudança necessária pode ter seu trauma amenizado ao se pensar sobre o verdadeiro papel da escola. Ter em mente que as crianças têm mais facilidade de se adaptar às novidades do que os adultos pode ajudar, bem como saber que, como lembra Ana Cássia, “é obrigação da escola propiciar a qualidade de como o aluno pode organizar seu pensamento. Se não, ela não passará de mera transmissora de conteúdos.”
Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga clínica e co-autora do livro Puericultura – Princípios e Práticas, onde aborda aspectos relacionados a ‘estimulação cultural da criança’. E-mail – cmaturano@hotmail.com
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