Dificuldades de fala em crianças podem indicar grave comprometimento neurológico

Especialista alerta que, quanto mais cedo o diagnóstico, mais eficaz pode ser o tratamento

A fala é uma das principais ferramentas da comunicação humana e interfere diretamente no desenvolvimento, relacionamentos sociais e desempenho escolar das crianças. Por esse motivo, segundo a otorrinolaringologista Renata Vigolvino, do Hospital Paulista, é importante saber em quais casos as dificuldades de fala podem ser consideradas normais e quando elas requerem mais atenção dos pais e responsáveis.

A comunicação dos bebês por meio do som acontece logo nos primeiros dias de vida. Como nesta fase eles ainda não falam, usam o choro para expressar necessidades. Já nos primeiros oito meses, a interlocução pela fala costuma acontecer por meio de sons balbuciados e sílabas repetidas, mas é a partir do primeiro ano que palavras simples como “água”, “papa” e as esperadas “mamãe” e “papai” começam a ser reproduzidas. As primeiras frases completas, por sua vez, costumam surgir entre 2 e 3 anos, quando o pequeno já está na idade escolar.

Apesar do panorama acima representar a maioria das crianças em fase de formação intelectual, existe uma parcela que não é capaz de se expressar por meio da fala. A especialista explica que o fato pode ser ocasionado por questões motoras e/ou neurológicas.

Para entender os possíveis causadores do problema, é preciso compreender as diferenças entre fala e linguagem. “A fala é o ato motor que produz o som utilizado para nos comunicar com o que pensamos e elaboramos, por meio da nossa linguagem”, explica a Dra. Renata.

Entre as principais dificuldades de fala durante a infância estão os desvios fonológicos — distúrbios caracterizados por omissões ou substituições de fonemas — e a apraxia de fala — distúrbio neurológico resultante de um déficit na consistência e precisão dos movimentos necessários ao ato de falar, quando o pequeno não apresenta nenhum déficit neuromuscular.

“A linguagem representa as habilidades que permitem que o indivíduo compartilhe socialmente pensamentos e ideias de forma estruturada verbal ou não verbal”, diferencia a otorrinolaringologista. Neste âmbito, entre os problemas mais comuns estão o Transtorno de Desenvolvimento da Linguagem (TDL), que é caracterizado por lesões na aquisição da linguagem e representado por atrasos e alterações em seu desenvolvimento; e o Autismo, distúrbio responsável por afetar a capacidade de comunicação, aprendizado e adaptação da criança.

Diagnóstico

Segundo a médica, a identificação de um possível problema de fala ou distúrbio neurológico costuma acontecer conforme a observação dos próprios pais e responsáveis pela criança, junto ao pediatra que a acompanha.

“É necessário estar atento e acompanhar os marcos de desenvolvimento de fala e linguagem dos filhos. Em casos de dúvidas ou algum estranhamento, o indicado é buscar um especialista para uma avaliação o quanto antes”, aconselha a Dra. Renata.

Normalmente, os sintomas variam e podem ser vistos no dia a dia das crianças ao longo das brincadeiras e atividades diárias. Entre os mais comuns estão a demora para começar a falar; a dificuldade de entender o que os outros falam; a troca de sílabas ou na ordem das palavras durante a composição de uma frase; e a dificuldade para relatar fatos de sua rotina ou de recontar uma história, entre outros. “É preciso que o adulto se atente a todo tipo de situação sem negligenciar um detalhe sequer”, orienta a médica.

O diagnóstico correto feito de forma prévia é importante, pois os atrasos no desenvolvimento de linguagem persistentes podem levar a sérios problemas de interação, aprendizado e cognição. Segundo o último relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, a prevalência de crianças com Transtorno do Espectro Autista subiu um pouco mais, ou seja, um autista para cada 54 crianças.

A médica ainda chama a atenção para os cuidados que devem ser redobrados durante o período de isolamento, já que, devido ao fechamento das escolas, o uso da tecnologia pelas crianças aumentou consideravelmente.

“O uso excessivo da tecnologia também pode afetar o desenvolvimento da linguagem, já que as telas de smartphones, tablets e televisores não estimulam a fala, tornando esses aparelhos contraindicados para crianças menores de dois anos.”

Tratamento

O que define o melhor tratamento indicado, seja para uma criança com problemas de fala ou com dificuldades de linguagem – que costuma ter questões mais sérias – é o diagnóstico médico correto e rápido. Segundo a Dra. Renata, normalmente, a abordagem envolverá um profissional especialista em fonoaudiologia.

Em algumas situações, entretanto, o caso pode requerer a complementação multiprofissional, com diversas especialidades tais como médico, terapeuta ocupacional, psicólogo, pedagogo, fisioterapeuta, odontopediatra e até nutricionista, de acordo com a gravidade e necessidades. Além disso, crianças que sofrem destas questões requerem atenção potencializada, tornando o papel dos pais fundamental no processo terapêutico no complemento das atividades fora do ambiente hospitalar.

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