Apesar de começarem a ser alfabetizadas por volta dos sete anos de idade, as crianças podem despertar a curiosidade pela escrita mais cedo. Esse interesse pode ser estimulado, mas sem a pretensão de que os pequenos aprendam de fato o que lhes é ensinado. O importante é deixa-los explorar esse novo universo, sem compromisso. A escrita é uma das principais formas de comunicação.
Através dela podemos contar e conhecer histórias, ler e compor poemas, ou mesmo receber ou deixar um aviso importante. O mundo das letras é algo fascinante, não só para quem já sabe ler, mas também para quem quer aprender. E neste grupo estão incluídas as crianças que, depois de dominar a comunicação oral, ficam ansiosas por aprender a se comunicar pela linguagem escrita. Nem todas elas despertam esse interesse tão cedo. Muitas só vão descobrir este mundo por volta dos sete anos, idade convencionada pelas escolas como a ideal para a alfabetização – embora algumas dêem início a esse processo ainda na pré-escola.
Porém, há crianças que com apenas quatro ou cinco anos já estão loucas para aprender a escrever. Curiosas, questionam a grafia de tudo e logo começam a complementar seus desenhos – que também comunicam, contam histórias, fazem poesia – com palavras. De acordo com a psicopedagoga Ana Cássia Maturano, esse interesse precoce pode ser muito saudável aos pequenos, contanto que seus pais saibam como lidar com ele. “Os adultos não podem esperar que a criança nessa idade aprenda o que lhe é explicado. Se ela está interessada em saber como se escreve determinada palavra, os pais devem mostrar sim, mas sem a expectativa de que seu filho transforme aquela informação em conhecimento”, diz Ana Cássia. Para ela, o importante é deixar a criança explorar esse novo mundo sem exercer qualquer cobrança.
Na verdade, as crianças nesta idade estão aprendendo a desenhar as letras, e não exatamente a escrever. “Isso deve ser encarado como uma fase lúdica da alfabetização”, ensina Quezia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, ABPp. “Para estimula-la, os pais podem dar lápis coloridos, papel sem linhas e jogos com letrinhas para as crianças se familiarizarem com o alfabeto”.
Existem muitos brinquedos recomendados para crianças entre quatro e cinco anos que contribuem para a alfabetização, geralmente associando as letras a figuras. Para Quezia Bombonatto, não há problemas em permitir esse aprendizado em casa. Embora a diferença do nível de conhecimento possa destacar a criança de seus coleguinhas de classe, o interesse pelas letras não deve ser suprimido. “Caberá aos professores fazer com que a criança alfabetizada precocemente não perca o interesse pela aula”, diz ela. Mas a presidente da ABPp ressalta que o incentivo não deve ultrapassar os limites da criança e que, portanto, os pais devem cuidar para não queimar etapas do desenvolvimento de seus filhos.
Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga clínica, colunista de Educação do G1
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