Como encontrar o equilíbrio na educação dos filhos?

Cobrança exacerbada x liberdade sem limites

por Michelly Gassmann – Seja nas redes sociais, no noticiário, nos programas de televisão, ou mesmo no grupo de mensagens do condomínio, a vida em sociedade e as opiniões se mostram cada vez mais extremas. Parece não existir mais equilíbrio ou bom senso nas relações, apenas certo ou errado, sim ou não, direita ou esquerda, preto ou branco.

Como orientadora educacional, tenho contato praticamente diário com os pais de alunos de todas as idades, desde pré-escolares até adolescentes que se preparam para o vestibular. De uma maneira geral, percebo dois perfis bastante distintos, salvando-se as exceções.

De um lado, pais exageradamente permissivos e do lado oposto, os radicalmente exigentes. Ambos podem estar prejudicando o desenvolvimento de seus filhos, ainda que a intenção seja contrária. Para citar dois exemplos:

Certa vez, entrevistei uma mãe e o seu filho de nove anos, que tinha dificuldades em matemática. Durante a entrevista, percebi uma dinâmica bastante curiosa entre eles. A mãe fez questão de deixar claro, desde o início, que o filho só faria o curso se estivesse de acordo, pois não queria “sobrecarregá-lo”.

Todas as perguntas voltadas à ela eram respondidas somente após um olhar apreensivo em direção ao filho, buscando a sua aprovação. O dia e horário das aulas foram escolhidos por ele. Antes do término da entrevista, ele se levantou, porque estava entediado. A mãe, instintivamente, levantou-se atrás do filho, sendo que a entrevista não havia terminado.

Esse aluno desistiu do curso, dois meses após começá-lo. Quando a mãe veio me informar da decisão, eu questionei se ela acreditava que uma criança de nove anos teria maturidade suficiente para tomar decisões que afetariam a sua educação e o seu futuro. Ela encolheu os ombros e disse: “se é o desejo dele, o que eu vou fazer?”.

O que fazer, nesse caso, é assumir a posição de mãe, pai ou responsável. Até nos tornarmos adultos, confiamos na experiência e discernimento de pessoas com mais vivência e capacidade para tomar as decisões que poderão moldar o nosso futuro. Do contrário, ficamos sem rumo.

No lado oposto da balança, igualmente tive experiências desconcertantes. Um menino de oito anos começou a fazer os cursos de português e matemática. Ao contrário do outro aluno, esse permaneceu por muito mais tempo.

A sua postura também foi muito diferente a do outro exemplo mencionado: no início, muito empolgado, feliz por finalmente conseguir entender os conteúdos escolares e melhorar as notas. O seu desempenho escolar melhorou muito. Tudo parecia ir muito bem, mas, com o passar do tempo, notei que o aluno parecia ir ao curso contra sua vontade.

Chegava de mau-humor, respondia, chegava a ser rude. Por outro lado, não faltava às aulas e entregava todas as lições de maneira impecável, sem erros. Chamei a mãe para conversar uma, duas, três vezes, sempre que percebia uma mudança de comportamento do aluno.

Por fim, ela me confessou que o nível de exigência dela em relação às tarefas do aluno eram altíssimas: conferia toda a lição e não admitia nenhum erro, chegando a dar castigos físicos no filho se ele não fizesse os deveres no nível que ela considerava ideal.

É óbvio que não demorou para esse aluno associar algo que no início era positivo e contribuía para o seu desenvolvimento a algo negativo, que trazia sofrimento. Ambas experiências me fizeram pensar em como posturas extremas poderão ter influenciado de maneira negativa a relação de ambos com o aprendizado.

Como educadora, acredito que existem muitas formas de compreender o mesmo assunto e que o segredo está em respeitar o ritmo de cada um. Qualquer criança pode aprender se for encorajada na medida certa. Ao mesmo tempo, estabelecer regras e limites é primordial, pois, sem isso, a criança fica desnorteada. Por isso, é importante ter uma rotina de estudos saudável, positiva, fornecendo os recursos necessários, mas sem cobrar perfeição.

Se você deseja ajudar o seu filho a desenvolver o seu máximo potencial, pode começar por algumas regras básicas:

  • Conheça o seu filho. Passe tempo com ele, entenda suas fraquezas e fortalezas;
  • Elogie cada conquista;
  • Não enfatize os erros, mas não menospreze a importância de aprender com eles e ressalte que sempre é possível melhorar;
  • Não procure uma fórmula mágica. Cada criança é única e o método que funciona para um pode não funcionar para o outro, busque um método que funcione dentro da sua realidade;
  • Nunca duvide do potencial de seu filho e diga isso a ele. Isso o ajudará a se tornar mais confiante e aumentará o seu desejo de melhorar.

Sobre Michelly Gassmann
Escritora, engenheira e consultora. Gestora de equipes, projetos, organização e planejamento. Orientadora educacional do método Kumon. MBA em Gestão estratégica e econômica de projetos pela FGV. Graduada em Engenharia elétrica com foco em telecomunicações pela FEI. Autora do livro A sétima ordem, publicado pela Literare Books International.

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