“Não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar.” (Oliver Wendell Holmes)
por Prof. Nelson Gonçalves – O mês de outubro chegou e com ele nossas lembranças de infância. Há quem acredite que, antigamente, a vida nessa fase era melhor. Do outro lado, aqueles que afirmam que hoje sim, as crianças têm tudo ao seu alcance. Gosto de pensar que, para quem consegue ser feliz, qualquer época será sempre a melhor.
Vejo as crianças de hoje com seus brinquedos tecnológicos, videogames de última geração, carrinhos de controle remoto e fico pensando: “Ah, se no meu tempo fosse assim”. Só que ao mesmo tempo, isso me faz pensar que naquela época – mesmo não existindo nada disso – nós éramos muito felizes, nos divertíamos com quase nada. Era chegar da escola, colocar a “roupa de guerra” e ir para a rua. Nos encontrávamos com os amigos e as brincadeiras iam surgindo conforme nossa imaginação trabalhava. Brincávamos até escurecer, às vezes esquecíamos até mesmo de comer, chegando em casa com tempo apenas para tomar banho e jantar, porque o sono logo tomava conta. No outro dia estávamos ali, prontos para mais uma jornada de brincadeiras e aventuras construídas na hora.
Hoje vejo que uma grande parte das crianças não vê a hora de chegar em casa e correr para trás de uma tela de televisão, computador ou celular. Todas ansiosas para ficar ali por horas, quase imóveis. Se você caminhar nas ruas, não verá mais aquele bando de crianças se aglomerando para ver quem irá “bater cara” (brincar de esconde, esconde), quem será “a mãe da rua” ou quem vai “bater corda”. Como sou professor de educação física há mais de 30 anos, posso dizer que, antigamente, só de ver o jeito de andar de uma criança, já dava para arriscar se ela tinha vocação para o esporte. Hoje temos dificuldades até em ensinar as crianças a correr sem tropeçar. A maioria não tem noção de espaço, tempo e vivência corporal.
Vejo muitos pais dizendo que as crianças de hoje são mais espertas e inteligentes. Isso não é verdade! O que eu vejo são crianças que precocemente são levadas a mexer em um celular ou tablet, e isso faz com elas tenham mais facilidade nisso. O que temos que nos atentar é que os estímulos visuais e auditivos estão sendo muito encorajados, enquanto as experiências sinestésicas, físicas e socioafetiva estão sendo deixadas de lado.
Essa pode ser a doença do século: crianças que não querem mais interagir com outras crianças pessoalmente porque preferem conversar através de um aplicativo ou de redes sociais. As pessoas, e principalmente os pais, não percebem que isso pode ser muito ruim para o desenvolvimento da criança. Temos que aprender a lidar com os outros, com as diferenças, com os problemas e as frustrações da vida real.
Alguns pais compram para seus filhos tudo que eles pedem. Existem crianças que nunca foram corrigidas ou colocadas de castigo porque os pais pensam que isso pode constranger o seu filho e prejudicar o seu desenvolvimento. Só que fazendo isso, dando tudo, estamos tirando das crianças a sua vivência real do mundo. As frustrações fazem parte do aprendizado! Crianças que não sofrem frustrações podem vir a ser adultos mimados, e isso pode levá-los a serem consumidores de drogas ou mesmo bebidas alcoólicas muito cedo. Portanto, pense bem antes de mimar seus filhos. Lembre-se que nós somos de uma geração que não tínhamos quase nada para brincar e sempre fomos muito felizes.
Pais, parem de querer comprar o amor dos seus filhos. Uma brincadeira com eles no meio da sala vale muito mais do que qualquer brinquedo. O que ficará na lembrança do seu filho, para sempre, não é o celular caro, o videogame ou o computador de última geração. O que ficará, de verdade, são os momentos bons que vocês passam juntos. Então, pare de criar desculpas do tipo “não tenho tempo” ou “já estou velho demais para isso”.
Aproveite você também esse dia das crianças!
Prof. Nelson Gonçalves é mestre em atividade física e saúde, especialista em psicopedagogia, recreação e lazer. Autor de dois livros e três CDs, tem entre suas principais atividades desenvolver projetos de treinamento e aprimoramento de competências emocionais em empresas e escolas. www.profnelson.com.br
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