Alienar o filho injustamente do parceiro pode torná-lo órfão de mãe ou pai vivo, uma verdadeira violência emocional em múltiplos níveis e que trarão consequências irreversíveis ao ser
por Bayard Galvão – Amar é buscar o bem-estar de alguém porque este alguém lhe inspira ou provoca bem-estar. Ajudar um idoso que caiu na rua não é um ato de amor, mas sim de ética ou respeito. Amamos quem nos provoca bem-estar (com cuidados, ajuda, diálogo e afeto) e/ou nos inspira este bem-estar (ao olhar alguém e valorizar o caráter de quem ali está; admirar a própria vida, na medida em que percebe que conseguiu auxiliar na formação de um filho ou filha de mérito; e sentir um preenchimento de orgulho de si, por estar com alguém que seja insubstituível).
Mas, infelizmente existem duas grandes complicações do amor: (1) é preciso sentir este bem-estar que alguém nos proporciona, pois o normal é nos acostumarmos com o que as pessoas fazem de bom para nós, não mais tendo este sentimento; e (2) valorizar de maneira justa uma mãe que cuida bem do filho, pois quando este pensa “é a sua obrigação!”, ele mata qualquer possibilidade de amor por ela, por que teria ido de bondade para responsabilidade, e ninguém ama quem lhe cuida por obrigação.
Portanto, um filho amará e se sentirá amado pelos seus pais na medida em que:
– Tiver mais momentos de bem-estar do que de mal-estar com eles;
– Observar em si este bem-estar;
– Valorizar as posturas e caráter dos seus pais.
Objetivamente colocando: não basta ser um bom pai ou boa mãe para ser amado pelos filhos, é preciso ensinar esse filho a perceber como eles foram e são bons, na medida do possível. Contudo, não incomumente, é necessário uma maturidade solidificada para aprender a valorizar os próprios pais.
Quando um pai ou mãe fala mal do outro, estando casado ou separado, o nome técnico disso é “alienação parental”, ou seja, o pai ou mãe estaria alienando-afastando o filho de sua mãe ou pai.
Esta alienação gera dois impactos na vida da criança: (1) afasta afetivamente e respeitosamente o filho do pai ou mãe; e (2) leva o filho a não valorizar quem lhe cuidou, trazendo uma sensação de “orfandade”, pois não teria tido pai ou mãe digna de admiração, mas apenas alguém que o tratou bem, em algum nível.
A alienação parental pode ocorrer (e ocorre!) dentro do casamento, com frases do dia a dia, como:
– “Não adianta falar com a sua mãe, ela nunca escuta, sempre acha que está certa.”;
– “O seu pai se preocupa mais com dinheiro do que conosco.”;
– “A sua mãe só se preocupa com a beleza e vaidades, já não se pode dizer o mesmo com relação ao trabalho e conhecimentos”;.
– “O seu pai está sempre de mau humor, conversar com ele sobre qualquer coisa é sempre difícil.”;
– “Você acha que eu falo coisas ruins para você? Se você ouvisse as coisas ruins que eu ouço do seu pai (ou sua mãe) sobre você, aí sim você saberia quem ele (ou ela) é.”;
– “O seu pai (a sua mãe) nem queria ser pai (ou mãe), se fosse por ele (ela), você nem existiriam, ele (ela) chegou inclusive a pedir para que eu abortasse você.”.
Quando um casal se separa, essas frases podem ser somadas a outras:
– “Seu pai (sua mãe) nos abandonou, ele (ela) só quer saber de se divertir!”;
– “Ela (ele) não te ama, prefere amigos e festas.”;
– “Ele (ela) dá uma pensão pequena, desvia dinheiro para não pagar o mínimo para você poder se divertir.”.
A diferença entre alienar e falar a verdade pode se fundamentar no quanto o filho ou filha que escuta teria maturidade para ponderar sobre o que foi dito, sem tomar o dito como uma verdade não verificada.
É verdade que algumas mães ou pais fazem mais mal do que bem aos seus filhos. Estes, quanto menor for o contato com a criança, melhor. Nestes termos, não seria alienação parental e sim proteção da criança, como no caso de uma mãe depressiva que fala todos os dias que a vida é ruim, que as crianças terão um futuro péssimo, que são feias e que foram a pior coisa que a mãe fez na vida.
Ao pensarmos em alienação parental, estamos mencionando três pessoas: mãe, pai e filho. O que é bom ou ruim para cada um deles, seja o alienador, o alienado ou a criança, precisa ser pensado em particular.
O pai ou mãe que verdadeiramente ama o seu filho buscará o bem dele, não sendo injusto com a respectiva mãe ou pai, seja falando de características não verdadeiras dele ou dela, só focando no ruim do outro e/ou diminuindo méritos que o outro tenha. Alienar o filho injustamente do respectivo pai ou mãe, pode torná-lo órfão de mãe ou pai vivo, uma verdadeira violência emocional em múltiplos níveis.
BAYARD GALVÃO é psicólogo clínico, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros e criador do conceito de Hipnoterapia Educativa. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos. www.hipnoterapia.com.br
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